Sentado, sem se importar com os outros passantes, ele a esperava chegar. Viu quando ela apareceu ao longe, vindo devagar pelas alamedas cobertas de folhas secas, trazendo flores nas mãos. Ela gostava de manter aquela formalidade, o que fazia com que ele se sentisse tanto lisonjeado quanto incomodado; jamais se lembrava de dar alguma coisa a ela.
Sorriu quando percebeu que ela continuava linda, tanto quanto no ano anterior, tanto quanto na época em que se apaixonaram, mais de vinte anos antes. Ela também sorriu ao vê-lo, iluminando seu rosto antes tenso -- por mais que seus encontros se repetissem anualmente, ela parecia jamais se acostumar a eles.
Afinal, encontraram-se. Ela lhe entregou as flores e o encarou por um longo tempo. Sabiam que não havia nada a ser dito. Ela havia casado novamente, tido uma outra filha e arranjado um emprego melhor. Já ele permanecia na mesma situação desde a separação, tantos anos antes, mas nenhum dos dois se importava com isso. Reviam-se, e isso bastava.
Ele percebeu os olhos dela ficarem úmidos e sabia que ela pensava "e se ainda estivéssemos juntos?" Lamentava. Estava tudo acabado, não havia jeito -- quantos mais anos separados seriam necessários para que ela se convencesse? Ele não conseguia entender a razão de tal apego ao passado, de pensar em como seria se tivesse sido, de entristecer-se sem motivo desejando o impossível.
Uma lufada de vento fez com que ela se lembrasse de que devia ir. Fitou-o uma última vez, enxugando os olhos com as costas das mãos, sorriu incerta e se despediu com uma tristeza resignada na voz. Ele, por sua vez, não se mexeu; apenas acompanhava-a com os olhos, vendo-a se afastar com seus passos elegantes sobre as folhas secas caídas nas estreitas alamedas. Ela voltaria, ele sabia. Estaria lá novamente, no mesmo dia de Finados, trazendo-lhe suas flores. E ambos, mais uma vez, lembrariam do tempo em que haviam estado juntos -- como se, por um só momento, pudessem esquecê-lo.
3 comentários:
Vim parar aqui por causa do seu comentário reaça no blog De Língua. É gente como você que sempre vê os trabalhadores como proletários, inferiores, que não merece nenhum respeito. Ainda fica tirando onda de artista. Vai tomar no cu você e sua prepotência, porque só um imbecil direitista diria que o governo atual é de esquerda. Filhote do Bush, vai mamar no pau dele pra ver se sai petróleo, debilóide de merda.
ernesto:
li seu comentário. é pena só poder responder por aqui, já que não deixaste outro contato.
ele foi tão interessante que pretendo escrever um textinho sobre ele, a ser publicado em breve. aguarde.
até lá, vá pra puta que o pariu.
forte abraço.
Leoc, gostei do seu conto, boa idéia essa da visita ao cemitério no dia de finados. Abração!
Postar um comentário