24.5.07

And all that jazz

Eu nunca gostei de jazz, muito por causa do Woody Allen. Sempre achei um estilo elitista e com improvisos demais pra ser apreciável.

Até que, dois anos atrás, me dei de aniversário o excelente jogo Mafia que tem, como trilha sonora, jazz europeu da época de 30-40. Algumas músicas me deixaram completamente apaixonado, especialmente algumas que tinham um dedilhado selvagem de guitarra.

Depois de alguma pesquisa, descobri que o dedilhador de guitarra em questão se chamava Django Reinhardt e que ele não tinha dois dedos na mão esquerda -- sim, ele fazia tudo aquilo apenas com dois dedos. Desnecessário dizer que o cara virou meu herói.

Siga este linque pra um dos poucos registros em vídeo de Django (e seu comparsa, Stephan Grappelli, no violino) e veja se não tenho razão. Este outro não tem vídeo, só fotos, mas a música consegue ter, na minha opinião, ainda mais swing.

15.5.07

Vamos moralizar essa bagaça

Li no noticiário do UOL de hoje que clodô, a síntese da formação política brasileira, teve um ataque qualquer e foi internado. Como não poderia deixar de ser, foi lembrado o piti anterior do deputado pra cima de sua excelentíssima colega Cida Diogo (PT-RJ) e o furor justiceiro da rapaziada da Câmara:

"O líder do PT na Câmara, deputado Luiz Sérgio (RJ), protocolou representação contra Clodovil na Câmara pelas ofensas do deputado contra as mulheres. Sérgio afirma, no texto, que Clodovil quebrou o decoro parlamentar ao usar palavras de baixo calão contra Cida Diogo e as mulheres em geral.

"Se a representação for aceita, o deputado pode sofrer punições que variam desde advertência verbal em plenário até a cassação do mandato."


Não duvido que clodô leve um passaralho. Nessas horas a gente lembra de todos os outros colegas envolvidos em tantos outros escândalos (com relação a desvios de verba, é bom dizer) e que levaram, no máximo, a tal advertência verbal, e tudo faz sentido.

É que eles sempre foram muito bem educados.

10.5.07

deu no grobo de hoje que policiais fizeram uma operação de repressão aos tóchicos em Copacabana, ontem, chamada "A Praça é Nossa". os puliça eram da 12ª DP, na Hilário de Gouveia.

existe uma estranha ironia aí.

9.5.07

Alamedas

Uma vez por ano, sempre naquele dia, ela vinha visitá-lo. Fazia tempo que não estavam mais juntos, mas ambos sentiam dever tanto um ao outro que era necessário, nem que fosse por um dia apenas, que se reencontrassem.

Sentado, sem se importar com os outros passantes, ele a esperava chegar. Viu quando ela apareceu ao longe, vindo devagar pelas alamedas cobertas de folhas secas, trazendo flores nas mãos. Ela gostava de manter aquela formalidade, o que fazia com que ele se sentisse tanto lisonjeado quanto incomodado; jamais se lembrava de dar alguma coisa a ela.

Sorriu quando percebeu que ela continuava linda, tanto quanto no ano anterior, tanto quanto na época em que se apaixonaram, mais de vinte anos antes. Ela também sorriu ao vê-lo, iluminando seu rosto antes tenso -- por mais que seus encontros se repetissem anualmente, ela parecia jamais se acostumar a eles.

Afinal, encontraram-se. Ela lhe entregou as flores e o encarou por um longo tempo. Sabiam que não havia nada a ser dito. Ela havia casado novamente, tido uma outra filha e arranjado um emprego melhor. Já ele permanecia na mesma situação desde a separação, tantos anos antes, mas nenhum dos dois se importava com isso. Reviam-se, e isso bastava.

Ele percebeu os olhos dela ficarem úmidos e sabia que ela pensava "e se ainda estivéssemos juntos?" Lamentava. Estava tudo acabado, não havia jeito -- quantos mais anos separados seriam necessários para que ela se convencesse? Ele não conseguia entender a razão de tal apego ao passado, de pensar em como seria se tivesse sido, de entristecer-se sem motivo desejando o impossível.

Uma lufada de vento fez com que ela se lembrasse de que devia ir. Fitou-o uma última vez, enxugando os olhos com as costas das mãos, sorriu incerta e se despediu com uma tristeza resignada na voz. Ele, por sua vez, não se mexeu; apenas acompanhava-a com os olhos, vendo-a se afastar com seus passos elegantes sobre as folhas secas caídas nas estreitas alamedas. Ela voltaria, ele sabia. Estaria lá novamente, no mesmo dia de Finados, trazendo-lhe suas flores. E ambos, mais uma vez, lembrariam do tempo em que haviam estado juntos -- como se, por um só momento, pudessem esquecê-lo.