27.11.07

Blogues, blogues, por que tê-los?

Comecei o texto anteanterior com essa pergunta e ainda não a respondi. O fato é que, no meu caso, não sei o que me motiva. É a vontade de escrever, sim, certamente, mas de escrever e ser lido. Fosse só escrever, cadernos existem pra isso -- letras, letras, frases, frases e capa fechada. Não tem essa de "eu escrevo pra mim". Quem escreve em blogue quer ser lido. Ponto.

Nos outros blogues que tive, havia um pequeno público. Era a época de ouro, o início dos blogues (2001-2002), em que isso ainda era popular, as pessoas liam, se interessavam e comentavam. E comentar, como já bem disse o Claúdio Vianna em suas tiras, é vital. Não só (mas é hipocrisia excluir esse motivo) por vaidade, mas simplesmente por causa do que foi dito no primeiro parágrafo. Ninguém escreve em blogue pra não ser lido. E como saber se existe leitura se não existe um feedback de retorno?

Aí o tesão acaba. A vontade murcha. E existem ausências, como as duas que já aconteceram neste blogue que, estranhamente, não foi levado por elas. Talvez este seja o definitivo.

Enfim. Não sei pra que um blogue serve nem por que cargas d'água tento manter um. Mas ele vai.

Enquanto isso, me dedico ao meu mais novo passatempo: colaborar com a Verdadeira Enciclopédia da Internet.

22.11.07

Só pra encerrar

Na segunda, publiquei aqui uma discussão travada entre Jon Lee Anderson, biógrafo de Che Guevara e colaborador da The New Yorker e o editor de internacional da veja, Diogo Schelp.

Jon Lee Anderson resolveu treplicar. Aqui você confere o texto, no original e traduzido.

Seleção Brasileira de Futebol de Botão

Dááááááááá-lhe, Júlio César!Ontem vi mais um "grande desafio para a nossa seleção" (sic Rede Globo) o jogo contra o Uruguai. Foi uma bela partida, como há muito não via. Jogadores correndo, toques de bola rápidos, pressão constante no adversário.

Infelizmente, quem jogou assim foi o Uruguai. Eram muito bons nas roubadas de bola, mas erravam muitos passes. Não fosse isso, provavelmente o time brasileiro não perderia só por 2 a 1. Não foi um placar justo. Deveria ser, no máximo, um empate -- só foi vitória graças ao gol CAGADO do Luís Fabiano. "Estrela do artilheiro" é o caralho, Galvão.

O time brasileiro ficou intimidado. Não sabe jogar contra times velozes com toque de bola. Só consegue enfrentar times que se movimentam pouco, porque nossos próprios jogadores não se movimentam. Parece um time de botão. O melhor jogador brasileiro em campo foi, sem dúvida nenhuma, o goleiro Júlio César. Bem típico do Dunga.

Deus nos proteja no próximo "jogão de bola" (idem acima), um amistoso contra a Irlanda em fevereiro. E sabe-se lá o que pode acontecer no próximo jogo das eliminatórias, contra o poderoso Paraguai, que atualmente é o líder.

É por isso que lanço a campanha: VOLTA, JUNINHO PERNAMBUCANO!

19.11.07

Qual a função de um blogue?

Comecei a me perguntar a respeito disso algum tempo atrás, quando recomecei a ler blogues e querer reativar este aqui. Talvez o comentário de jH ao texto anterior tenha apressado o processo. Mas o fato é que Hunter Thompson Is Back From The Grave.

Começo com uma carta encontrada no imprensa marrom, bom blogue jornalístico, enviada ao informativo oficial da oposição de centro-direita por Jon Lee Anderson, biógrafo de Che Guevara, a respeito de uma matéria publicada pela revista algum tempo atrás e assinada pelo editor Diogo Schelp.

Antes da carta, a ressalva: eu não sou devoto de Che Guevara.

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“Caro Diogo,

Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu email. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hiper editorializada, ou uma hagiografia ou – como é o seu caso – uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che.

Tentei pôr pele e osso na figura super-mitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é.

Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade.

O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista.

No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo.

Cordialmente,

Jon Lee Anderson.”


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Até aqui, nada de novo pra quem está acostumado às peripécias da revista. Maniqueísmo, parcialidade e alarmismo são fato comum. Talvez o próprio Curso Abril ensine isso àqueles que anseiam por uma vaga na publicação.

O problema foi quando o signatário da reportagem resolveu, do alto de sua arrogância, responder a Anderson. Depois de cada parágafo, um pequeno comentário.

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“Caro Anderson,

Eu fiquei me perguntando, depois de lhe enviar um email pedindo (educadamente) uma entrevista, por que nunca recebi uma resposta sua. Agora sei que a mensagem deve ter-se perdido devido a algum programa antispam ou por qualquer outra questão tecnológica. Também não recebi sua ‘carta’ – talvez pelo mesmo problema. Tudo isso não tem a menor importância agora porque você resolveu o assunto valendo-se dos meios mais baixos – um email circular. O que lhe fez pensar que tinha o direito de tornar pública nossa correspondência, incluindo a mensagem em que eu (educadamente) pedia uma entrevista? Isso, caro Anderson, é antiético. Vindo de alguém que se diz um jornalista, é surpreendente.


Esse é o problema de quem não sai de uma redação. É fato profundamente conhecido que repórteres da veja não assinam matérias; quem assina é o editor, usando (e abusando da) apuração dos outros. Caso Schelp tivesse realmente que correr atrás de uma entrevista, usaria o telefone. Se eu fosse editor-chefe e algum repórter me chegasse com essa desculpa, teria que caçar outro emprego no dia seguinte.

Não adianta nada ter educação, Schelp. Seria melhor ter iniciativa.

Você pode não gostar da reportagem que escrevi; ela pode ser boa ou ruim, bem-escrita ou não, editorializada ou não – mas não foi feita com os métodos antiéticos que você usa. Eu respeito a relação entre jornalistas e fontes. Você não. E mais: parece-me agora que você é daquele tipo de jornalista que tem medo de fazer uma ligação telefônica (assim são os maus jornalistas), já que tem meu cartão de visita e conhece meu número de telefone. Se você tinha algo a dizer sobre a reportagem — e já que sua mensagem não estava chegando a seu destino — poderia ter me ligado.

Ha! Ha! Ha!

A incoerência da veja se revela mesmo no discurso de seus editores. Então agora é a fonte que tem que correr atrás do jornalista (fazendo uma ligação internacional, que seja) se quiser reclamar de uma reportagem -- que foi malfeita (ignorando-se aí toda a editorialização inerente à veja) porque, de início, o jornalista esqueceu da sua OBRIGAÇÃO de se virar (incluindo dar muitos, muitos telefonemas) se quiser fazer uma apuração razoavelmente decente.

O Universo orbita em torno de veja.

Eu não sei que tipo de imagem de si mesmo você quer criar (ou proteger) negando os fatos que o seu próprio livro mostra, mas está claro agora que é a de alguém sem ética. Você pode ficar certo de que não aparecerá mais nas páginas desta revista.

Sem mais,
Diogo Schelp”


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O mais engraçado é quando os vejeiros resolvem falar de ética. É pena que essa seja considerada a publicação "informativa" mais importante do país.

Estamos fodidos.

Leia também os comentários do imprensa marrom.