19.11.07

Qual a função de um blogue?

Comecei a me perguntar a respeito disso algum tempo atrás, quando recomecei a ler blogues e querer reativar este aqui. Talvez o comentário de jH ao texto anterior tenha apressado o processo. Mas o fato é que Hunter Thompson Is Back From The Grave.

Começo com uma carta encontrada no imprensa marrom, bom blogue jornalístico, enviada ao informativo oficial da oposição de centro-direita por Jon Lee Anderson, biógrafo de Che Guevara, a respeito de uma matéria publicada pela revista algum tempo atrás e assinada pelo editor Diogo Schelp.

Antes da carta, a ressalva: eu não sou devoto de Che Guevara.

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“Caro Diogo,

Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu email. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hiper editorializada, ou uma hagiografia ou – como é o seu caso – uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che.

Tentei pôr pele e osso na figura super-mitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é.

Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade.

O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista.

No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo.

Cordialmente,

Jon Lee Anderson.”


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Até aqui, nada de novo pra quem está acostumado às peripécias da revista. Maniqueísmo, parcialidade e alarmismo são fato comum. Talvez o próprio Curso Abril ensine isso àqueles que anseiam por uma vaga na publicação.

O problema foi quando o signatário da reportagem resolveu, do alto de sua arrogância, responder a Anderson. Depois de cada parágafo, um pequeno comentário.

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“Caro Anderson,

Eu fiquei me perguntando, depois de lhe enviar um email pedindo (educadamente) uma entrevista, por que nunca recebi uma resposta sua. Agora sei que a mensagem deve ter-se perdido devido a algum programa antispam ou por qualquer outra questão tecnológica. Também não recebi sua ‘carta’ – talvez pelo mesmo problema. Tudo isso não tem a menor importância agora porque você resolveu o assunto valendo-se dos meios mais baixos – um email circular. O que lhe fez pensar que tinha o direito de tornar pública nossa correspondência, incluindo a mensagem em que eu (educadamente) pedia uma entrevista? Isso, caro Anderson, é antiético. Vindo de alguém que se diz um jornalista, é surpreendente.


Esse é o problema de quem não sai de uma redação. É fato profundamente conhecido que repórteres da veja não assinam matérias; quem assina é o editor, usando (e abusando da) apuração dos outros. Caso Schelp tivesse realmente que correr atrás de uma entrevista, usaria o telefone. Se eu fosse editor-chefe e algum repórter me chegasse com essa desculpa, teria que caçar outro emprego no dia seguinte.

Não adianta nada ter educação, Schelp. Seria melhor ter iniciativa.

Você pode não gostar da reportagem que escrevi; ela pode ser boa ou ruim, bem-escrita ou não, editorializada ou não – mas não foi feita com os métodos antiéticos que você usa. Eu respeito a relação entre jornalistas e fontes. Você não. E mais: parece-me agora que você é daquele tipo de jornalista que tem medo de fazer uma ligação telefônica (assim são os maus jornalistas), já que tem meu cartão de visita e conhece meu número de telefone. Se você tinha algo a dizer sobre a reportagem — e já que sua mensagem não estava chegando a seu destino — poderia ter me ligado.

Ha! Ha! Ha!

A incoerência da veja se revela mesmo no discurso de seus editores. Então agora é a fonte que tem que correr atrás do jornalista (fazendo uma ligação internacional, que seja) se quiser reclamar de uma reportagem -- que foi malfeita (ignorando-se aí toda a editorialização inerente à veja) porque, de início, o jornalista esqueceu da sua OBRIGAÇÃO de se virar (incluindo dar muitos, muitos telefonemas) se quiser fazer uma apuração razoavelmente decente.

O Universo orbita em torno de veja.

Eu não sei que tipo de imagem de si mesmo você quer criar (ou proteger) negando os fatos que o seu próprio livro mostra, mas está claro agora que é a de alguém sem ética. Você pode ficar certo de que não aparecerá mais nas páginas desta revista.

Sem mais,
Diogo Schelp”


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O mais engraçado é quando os vejeiros resolvem falar de ética. É pena que essa seja considerada a publicação "informativa" mais importante do país.

Estamos fodidos.

Leia também os comentários do imprensa marrom.

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