9.5.07

Alamedas

Uma vez por ano, sempre naquele dia, ela vinha visitá-lo. Fazia tempo que não estavam mais juntos, mas ambos sentiam dever tanto um ao outro que era necessário, nem que fosse por um dia apenas, que se reencontrassem.

Sentado, sem se importar com os outros passantes, ele a esperava chegar. Viu quando ela apareceu ao longe, vindo devagar pelas alamedas cobertas de folhas secas, trazendo flores nas mãos. Ela gostava de manter aquela formalidade, o que fazia com que ele se sentisse tanto lisonjeado quanto incomodado; jamais se lembrava de dar alguma coisa a ela.

Sorriu quando percebeu que ela continuava linda, tanto quanto no ano anterior, tanto quanto na época em que se apaixonaram, mais de vinte anos antes. Ela também sorriu ao vê-lo, iluminando seu rosto antes tenso -- por mais que seus encontros se repetissem anualmente, ela parecia jamais se acostumar a eles.

Afinal, encontraram-se. Ela lhe entregou as flores e o encarou por um longo tempo. Sabiam que não havia nada a ser dito. Ela havia casado novamente, tido uma outra filha e arranjado um emprego melhor. Já ele permanecia na mesma situação desde a separação, tantos anos antes, mas nenhum dos dois se importava com isso. Reviam-se, e isso bastava.

Ele percebeu os olhos dela ficarem úmidos e sabia que ela pensava "e se ainda estivéssemos juntos?" Lamentava. Estava tudo acabado, não havia jeito -- quantos mais anos separados seriam necessários para que ela se convencesse? Ele não conseguia entender a razão de tal apego ao passado, de pensar em como seria se tivesse sido, de entristecer-se sem motivo desejando o impossível.

Uma lufada de vento fez com que ela se lembrasse de que devia ir. Fitou-o uma última vez, enxugando os olhos com as costas das mãos, sorriu incerta e se despediu com uma tristeza resignada na voz. Ele, por sua vez, não se mexeu; apenas acompanhava-a com os olhos, vendo-a se afastar com seus passos elegantes sobre as folhas secas caídas nas estreitas alamedas. Ela voltaria, ele sabia. Estaria lá novamente, no mesmo dia de Finados, trazendo-lhe suas flores. E ambos, mais uma vez, lembrariam do tempo em que haviam estado juntos -- como se, por um só momento, pudessem esquecê-lo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Vim parar aqui por causa do seu comentário reaça no blog De Língua. É gente como você que sempre vê os trabalhadores como proletários, inferiores, que não merece nenhum respeito. Ainda fica tirando onda de artista. Vai tomar no cu você e sua prepotência, porque só um imbecil direitista diria que o governo atual é de esquerda. Filhote do Bush, vai mamar no pau dele pra ver se sai petróleo, debilóide de merda.

leoc. disse...

ernesto:

li seu comentário. é pena só poder responder por aqui, já que não deixaste outro contato.

ele foi tão interessante que pretendo escrever um textinho sobre ele, a ser publicado em breve. aguarde.

até lá, vá pra puta que o pariu.

forte abraço.

Anônimo disse...

Leoc, gostei do seu conto, boa idéia essa da visita ao cemitério no dia de finados. Abração!