7.7.06

Quarta-feira de cinzas

O Pierrô encontrou a Colombina. Ambos se abraçaram sob a luz capenga de um poste quebrado. Então apareceu o Arlequim. Sua fantasia estava rasgada, sua maquiagem borrada, o sangue pingava-lhe da gengiva cortada. Puxou a navalha, o Pierrô se viu indefeso. A Colombina pôs-se no meio entre os dois.

A Jardineira, triste porque a Camélia quebrara um galho, dera dois suspiros e depois morrera, resolveu jogar-se da janela. Mal viu em seu vôo espiral que rumava em aceleração constante para o embate carnavalesco que se armava na calçada. Pierrô e Arlequim, a uma boa distância um do outro, viram a Jardineira. Mas a Colombina, ansiosa que estava para impedir o confronto, não se deu conta da aproximação da suicida.

A Jardineira caiu exatamente sobre a cabeça da Colombina, fulminando-a na hora. Subiu a poeira dos vasos e, quando ela abaixou, Pierrô e Arlequim depararam-se um com os olhos do outro. Ambos sacudiram a poeira das roupas e deram a volta por cima dos foliões caídos após três dias de comemoração. Já amanhecia a quarta-feira, os sinos tocavam nas igrejas. O Pierrô pensava apenas na Colombina. O Arlequim, com a navalha na mão, perguntava-se se um dia haveria outro Carnaval.

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