7.8.06

Reverberação

Estava numa daquelas sensações em que o peito explode de nervoso e dá para se ouvir o coração batendo como se fosse a polícia pondo abaixo a porta da sua sala para o achaque da semana. Suava um suor pastoso e sombrio, suor salgado e pesado, suor melado de medos passados. Tremia de medo, um medo primal primata primitivo, sozinho no escuro escondido com a faca na mão. A arma improvisada não sabia se lhe seria algo útil, mas atrás da cama, com poucas horas à frente e os malditos passos em redor, não havia muito o que pensar.

Súbito, um rangido.

Ficou sem saber de onde vinha o som, era uma estereodemência que o cercava e o sufocava num calor de sauna, umidade quente que subia pelas narinas e descia pela garganta queimando o ar que inflamava mas não podia deixar de respirar. Inspirava fogo, expirava medo, e o maldito suor pastoso pingava e empapava sua testa sua roupa sua alma. Os cabelos teimavam em cobrir-lhe a testa; tirava-os, obstinado, para enxergar o quê?, à espera, sempre à espera, dos passos que haviam se tornado vozes que haviam de tornar-se gritos que haviam de tornar-se pó. Sorriu nervoso, um esgar rancoroso que projetou-se luminoso em sua própria escuridão.

Então, o ar novo. Aberta a porta certa, a porta do quarto onde por quatro horas se escondia, o sorriso nervoso tornou-se rosto furioso e com a faca na mão fechada apertou os olhos.

-- E este é o quarto principal. Tenho certeza que vocês vão adorar. É o

Um grito de pânico irrompeu no quarto silente antes que a frase pudesse acabar. Um salto silente irrompeu no quarto em pânico antes que o corpo pudesse cair. Facadas ligeiras, certeiras, inteiras, três corpos sem vida no chão empapado de sangue e suor, ecos de gritos de morte pelas paredes, reverberação. Pilhou carteiras, cartões e o que mais pôde, saiu depressa sem ter para onde, largando para trás o que já chamara lar. Filhos da puta, trio de filhos da puta, querendo comprar a casa abandonada que tanto lhe agradara ocupar.

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