18.2.08

Sobre conglomerados

Ontem, domingo de preguiça, depressão causada por visita aos pais, estava vendo a TV Record quando o Paulo Henrique Amorim anunciou a matéria bombástica que seria divulgada no Domingo Espetacular: crentes estavam pedindo indenizações por causa de matérias publicadas no Grobo e na Fôia que consideraram "ofensivas à sua religião".

Os crimes foram: no Globo, a Universal ("a Igreja que mais cresce no Brasil", segundo a Record) foi chamada de seita. Na Folha, uma matéria trazia a seguinte frase: "A hipótese é que os dízimos sejam esquentados em paraísos fiscais." (grifo meu) Daí, alguns clientes fiéis sentiram-se ofendidos e foram devidamente "orientados" pelo departamento jurídico da filial igreja que freqüentavam. (e vejam só que coisa: a Universal, como toda empresa igreja que se preze, tem departamento jurídico)

A pauta da matéria da Record falava exclusivamente do direito que os fiéis tinham de se sentir ofendidos e de como os dois jornais haviam sido feios e maus no tratamento a eles. E por aí ia, falando como os crentes sofrem preconceito da grande organização judaico-católica que colonizou o Ocidente.

Certo. Mas a Universal é a dona da Record, e tem grandes planos de ganhar dinheiro também por meio da mídia. A Rede Record tem crescido consideravelmente nos últimos anos, e já começa a incomodar os grandes conglomerados de mídia no Brasil, que são a Abril (com quem não concorre - ainda - por não ter entrado - ainda - no mercado de revistas), a Globo e a Folha. Um desfalque nesses grupos não poderia ser melhor para a Record/Universal. E é essa a estratégia deles: quebrá-los por meio de uma onda de processos.

Tudo bem, são empresas e o mercado é bicho cão. Mas o problema é que um lance dessa guerra empresarial foi dado na forma de matéria jornalística, explicitamente direcionada a fazer o crentezim levantar de sua poltrona com um frêmito de fúria e, indignado, entrar um um pedido de indenização por danos morais contra o Globo e a Folha. Não acho que algum dos dois veículos seja um bastião da moralidade e não sou hipócrita a ponto de achar que os crentes não sofram preconceito, mas é terrivelmente anti-ético manobrar a massa "cristã" por meio de uma pretensa matéria por um objetivo puramente empresarial.

E só mais um pontinho ("a questão que fica no ar"): será que a assessoria jurídica das igrejas fez serviço voluntário ou cobrou um dizimozim do fiel ofendido? E será (a dúvida) que, como todo escritório de advocacia, vai levar uma parte da indenização como honorários? Não duvido que isso aconteça; é sempre bom procurar novas fontes de renda.

Nenhum comentário: