12.6.06

Mais uma vez

Este blogue, de acordo com meus cálculos, é o oitavo que inicio desde que aderi à moda, em meados de 2001. Cinco anos, portanto, sendo mais ou menos bem-sucedido. Dando uma olhada nos textos antigos que havia escrito, encontrei o que reproduzo abaixo, redigido em novembro de 2002, que bem pode servir como abertura novamente.


Hoje este blogue está oficialmente (e pela terceira vez) nascendo. Por isso, nada melhor que falar de morte.

Dizem que pra morrer basta estar vivo. Mas "estar vivo" e "morrer", apesar do significado aparentemente inquestionável, são coisas muito mais vagas do que parece à primeira vista. Biologicamente, é fácil falar de vida e morte. Existem sinais indiscutíveis para considerar alguma coisa viva e para saber quando ela deixou de estar. Assim como se ela jamais viveu em toda sua existência.

Mas existem outros sinais, menos técnicos - e, por isso, mais complicados e obscuros - que demonstram a existência ou não de vida. Qual a diferença entre uma samambaia e uma pessoa que permanece sentada e inerte num canto, sem tomar nenhuma decisão, a baba escorrendo pelo canto da boca, o limo crescendo entre os neurônios? Tecnicamente, ambos estão vivos - mas é como se não estivessem. Ambos ficam parados. Submissos. Passivos. Mortos. Para uma samambaia, é compreensível. Para uma pessoa, é inaceitável.

Não me refiro só aos revolucionários de poltrona, que bradam "isso é uma vergonha!" diante de qualquer mazela que seus indignados olhos vêem no Jornal Nacional e que é esquecida assim que começa a Novela das Oito. Revolução é difícil de fazer, está fora de moda. Me refiro, isso sim, àquelas estátuas de bronze enferrujadas, guardadas num canto escuro, úmido e esquecido, que permanecem em seu incômodo lugar embora tenham pernas para fugir para qualquer outro ponto do planeta. Às vezes, uma fuga nem é necessária. Olhar pra outro canto, virar a cabeça, já é suficiente. Mas as pessoas-samambaia, inertes mortas e fétidas, não têm força para isso. Ou talvez não queiram ter.

Pra gente assim, vida e morte não faz diferença, assim como pra um bloco de granito não importa estar inteiro ou destruído a marretadas. A boca permanece semi-aberta, a baba escorrendo lentamente, a vontade de fazer qualquer coisa permanece apenas vontade, quando vontade chega a ser. Vida e morte se confundem pras pessoas-samambaia. Pra morrer, nesses casos, não falta nada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu já tinha me lembrado do Manuel Bandeira quando cheguei aos "blocos de granito" do último parágrafo. Está lá, em 'Gesso':

"Só é verdadeiramente vivo aquilo que já sofreu".

Samambaias inclusas...