7.6.06

Raul Seixas sou eu

Era uma noite fria no Centro de Niterói. Não sei dizer quantos graus fazia, mas era o suficiente para sentir frio mesmo usando uma camisa de mangas compridas e tendo tomado uma garrafa de vinho. Estávamos nos organizando para entrar nos carros que nos levariam ao próximo bar para continuar a comemoração, já que aquele em que estávamos havia fechado mais cedo para que fosse feita a faxina anual.

As meninas e o motorista (por acaso, o aniversariante) já haviam entrado no carro que nos transportaria. Na calçada, o escultor e eu esperávamos nossa vez. Então fomos surpreendido pelo coroa das pulseirinhas.

"Vocês são os dois homens mais bonitos deste bar", disse ele, sem nenhum motivo aparente. "Você até parece o Janequine", acrescentou, dirigindo-se ao escultor. Ele riu. "Ganhei a noite", comentou. Dei a ele os parabéns e toquei o coroa no ombro, agradecendo. "Você também é muito bonito", emendei. Fomos andando para o carro, já que só faltávamos nós para entrar, e o coroa ia atrás elogiando todo mundo. Lindos, lindos, simpáticos, juvenis. Foi então que ele disse que eu era a cara do Raul Seixas. Tinha sido a segunda vez em dois dias.

No dia anterior, minha mulher e eu andávamos pelo Centro de Campos depois de ter ido à bienal do livro de lá. Estávamos ansiosos pra ir, a televisão anunciava como um evento colossal, e no final o que encontramos foi duas dúzias de estandes (sendo mais da metade um subgrupo dispensável que incluía livros evangélicos, de criança, ou ambos) amontoados num parque de exposição que fedia a boi. Fiz boas aquisições lá, no entanto: Jack London, Bukowski e Henry Miller.
Passeávamos pelo calçadão movimentado quando, em frente a uma agência do Itaú, uma cara muito estiloso (parecido com o "Pica-Pau" do Ídolos) veio nos oferecer um empréstimo. Perguntou como um agiota: "Quer um empréstimo?" Como não estávamos precisando, recusamos e continuamos andando, quando ele emendou outra pergunta:

"Você já pensou em ser sósia do Raul Seixas?" Aí eu parei e olhei pra ele. Havia falado sério. Já haviam me comparado a muita gente, mas até então nunca ao Raulzito. Pensei em alguma resposta espirituosa que pudesse dar a ele, mas como não encontrei nenhuma, disse apenas que Não. "Então vai nessa, cara. Você pode ganhar uma grana." Agradeci o conselho e nos despedimos com um cumprimento também super estiloso. Tudo no cara, aparentemente, tinha toneladas de estilo.

E aí o coroa tinha dito a mesma coisa e isso me ficou na cabeça. Àquela altura, já estava com a cabeça pra dentro do carro, recitando uma poesia (até interessante, mas da qual nada me lembro) sobre adjetivos e substantivos para os sete que lá dentro nos empilhávamos. "Querem comprar uma pulseirinha da Copa?", perguntou, e então entendemos porque ele queria nos agradar tanto. O motorista-aniversariante comprou e ligou o carro. Nos despedimos e o coroa disse por fim: "Não percam o Programa do Jô no dia 13, eu vou estar lá." Esse é um programa que não pretendo perder.

Nenhum comentário: